A Igreja e as manifestações políticas

 

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Não poderia deixar de registrar aqui algo sobre os acontecimentos que marcaram o país nestes últimos dias. O que começou como protesto contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, evoluiu para uma marcha nacional contra a corrupção no Brasil.

Excessos e vandalismos à parte, todo esse movimento tem sido algo LINDO de se ver. Em plena Copa das Confederações, o povo cantando o hino nacional e fazendo tremular o verde amarelo da nossa bandeira não por causa do futebol, mas declarando seu amor pelo país, e pedindo mais educação, saúde, segurança, honestidade política… Sinceramente, embora este fosse meu desejo há décadas, não pensei que viveria para ver esta cena.

“Da copa eu abro mão, eu quero mais dinheiro pra saúde e educação!” Nada poderia ser mais emblemático que este grito. Orgulho de ser brasileiro!!

Mas, este é um Blog sobre Igreja. O que a Igreja de Jesus tem a ver com Copa do Mundo e aumento da tarifa de ônibus?

Como filhos de Deus e cidadãos do Céu, sabemos que não somos deste mundo (João 14:2-3), que nossa mente deve estar nas coisas que são “de cima” e não nas que são da terra (Colossenses 3:1-3) e que Igreja e Estado são instituições que não se misturam (Mateus 22:21, João 18:36).

Como filhos de Deus e cidadãos do Céu, vivemos em coerência aos ensinos de Cristo, e por isso somos contrários à violência (Mateus 5:44), contendas (1 Timóteo 2:8) e confusões (Efésios 4:31).

Como filhos de Deus e cidadãos do Céu, devemos respeitar e honrar nossos governantes (Tito 3:3), nos sujeitar às leis estabelecidas (Romanos 13:1-7) e interceder constantemente por todos aqueles que exercem algum tipo de autoridade sobre nós (1 Timóteo 2:1-3).

Como filhos de Deus e cidadãos do Céu, nossa prioridade são as coisas espirituais, somos adeptos da paz e respeitamos nossos governantes, MAS concomitantemente a isso, não podemos nos omitir diante da injustiça (1 Coríntios 13:6). Como João Batista, precisamos denunciar o pecado, mesmo que isso nos custe a própria vida (Lucas 3:19-20, Marcos 6:21-27).

A Bíblia usa uma linda analogia comparando a Igreja como a Noiva de Cristo, e nos exorta a manter nossas “vestes limpas” ou seja, sem pecado. Entretanto,  o medo de sujar as nossas vestes têm nos mantido longe, muitas vezes, não do pecado, mas do pecador.

Com o argumento de não nos contaminar, temos nos omitido e preferido comodamente permanecer dentro dos nossos “saleiros”, e assim, nos perdido da razão pela qual estamos neste mundo. O Mestre se “sujou” ao tocar em leprosos, abraçar prostitutas, carregar criancinhas no colo, conversar com mendigos. Nosso lugar é NO MUNDO, onde os pecadores estão. Fazendo diferença, como sal e luz, testemunhas do que Cristo pode fazer.

É verdade que o sistema político no nosso país está contaminado e corrompido, e que muitos cristãos que tem adentrado por este caminho para fazer diferença, acabam engolidos por ele. É verdade também que muitos de nossos irmãos têm entrado para a carreira política com motivações erradas, dentre elas, a de representar os interesses da igreja.

Precisamos entender de uma vez por todas que a Igreja não precisa da política, é a política que precisa da Igreja. A nação se perderá na podridão do pecado se os cristãos se calarem e se limitarem a seus templos-saleiros. Cristo nos chama para guerrearmos contra o pecado, para mostrarmos ao mundo as características do Reino de Deus e sermos agentes de transformação desse mundo com o poder do Evangelho. Esta é a vida de adoração que Deus procura ver em seus filhos: eu o busco, sou cheio do  Espírito, e suas águas vivas fluem através de mim levando vida à terra seca.

Se eu não creio que o mundo pode ser transformado por Cristo através de mim, então é vã a minha fé, é vã a minha pregação (Tiago 2:26).

Como filhos de Deus e cidadãos do Céu, somos também (mesmo temporariamente) cidadãos brasileiros, e princípios como retidão, justiça, igualdade social, honestidade… são marcas do Reino pelas quais precisamos buscar nesta vida. Eu creio que é possível sim construirmos juntos um país melhor, com um governo mais justo, cujo propósito não seja enriquecer os próprios bolsos, mas gerenciar os bens públicos com equidade e solidariedade.

Nosso conformismo e comodismo nunca mudarão nada.  Mas nossas orações aliadas à atitudes e envolvimento político são um flash de esperança para que, finalmente, as velhas promessas de campanha se concretizem. Investimentos em saúde, educação, segurança, infraestrutura, distribuição de renda, e amplas reformas em nossos sistemas tributário, politico-partidário, previdenciário, carcerário, poderes legislativo e judiciário… A lista é interminável. Há muito o que ser feito e estamos muito, muito longe de onde queremos chegar, mas nos levantar do lugar onde estamos é o primeiro passo para chegarmos lá.

Que o nosso futebol continue em segundo plano, e esforcemo-nos para que valores bíblicos como igualdade, solidariedade, bondade, justiça, ética, moralidade, pureza e honestidade sejam a marca, não só do nosso governo, mas também de cada cidadão desta nação. E que a Igreja de Cristo volte a ser um referencial de tudo isso. A começar em mim… A começar em cada um de nós!

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Ser Igreja

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Márcia Rezende

Bacharel em Teologia e Educação Religiosa

Marília/SP

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Permitida reprodução e distribuição sem fins lucrativos

mediante citação da fonte e autoria.

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